domingo, 2 de julho de 2017

O que está por trás da politica de “Diretas já”?

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Rosi Messias (CST-PSOL) - Secretária Geral do PSOL-RJ
JUN 28, 2017


Desde o mês de março têm ocorrido importantes calendários unitários de lutas e greves, que culminaram com a greve geral do dia 28 de abril e a Marcha dos 100 mil à Brasília no dia 24 de maio. No entanto essa unidade, muito progressiva, foi rompida com o lançamento da Frente Ampla em Defesa das Diretas, no mesmo dia em que foi convocada a data da segunda greve geral. A Frente é impulsionada pelo PT, PCdoB, PDT e PSB (este último era da base de sustentação do governo Temer) e REDE (partido financiado pelo Banco Itaú). Integram-na também diversos movimentos sociais que compõem as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, importantes correntes do PSOL, o MTST e organizações como o MAIS. Essa Frente se sustenta principalmente na construção de atos shows com Caetano Veloso, Milton Nascimento, entre outros artistas. realizados aos domingos, que reúnem milhares de pessoas, em especial na hora em que os famosos artistas se apresentam.

Diretas já” é a politica do PT para impedir uma saída classista

Avaliamos que a campanha das Diretas é uma política consciente do PT e de setores da burguesia para atrair a esquerda e impedir que surja um polo alternativo contra o PT, PSDB e PMDB. Esta política serve para dividir o movimento de massas, busca diluir a classe trabalhadora como classe social e impedir o desenvolvimento do ascenso pela via da ação direta do movimento de massas. E ainda busca uma cortina de fumaça para que Lula e o PT continuem buscando um “acordão” para salvar o regime politico em crise. Esse podre regime do sistema financeiro e das empreiteiras, onde a corrupção e a aplicação dos ajustes neoliberais têm sido a marca desde Sarney, Collor, Itamar, passando por FHC, até a frente popular de Lula e Dilma, reforçado agora com Temer.

O movimento pelas Diretas busca blindar Lula pela esquerda, para que o mesmo volte em 2018 como “salvador da pátria”, depois de seu partido, o PT, ter governado o país durante 13 anos para o grande capital. Isso explica porque as Frentes não convocaram nenhum ato pelo Fora Temer no dia do julgamento do TSE, bem como as tentativas das centrais sindicais de desmontar a greve geral. Desta forma, setores da própria burguesia podem utilizar a pauta das Diretas para tentar descomprimir o movimento de massas, canalizando a insatisfação popular para o voto. Um exemplo disso é a Folha de São Paulo que em seu editorial voltou a defender as Diretas, bem como a CCJ do Senado junto a partidos e dirigentes burgueses como REDE, PDT e PSB, Roberto Requião, Ronaldo Caiado e FHC. Pelo mesmo motivo, a juventude tucana na UNE se somou à campanha do PT e do PCdoB pelas Diretas!

Não estamos na mesma conjuntura de 1984

Somos terminantemente contrários a uma eleição indireta porque é inadmissível que o Congresso Nacional – um covil de bandidos – eleja o novo presidente da República. Nesse ponto temos um importante acordo. Porém, avaliamos ser um erro ter como política mobilizar pela consigna das eleições diretas. Em nossa visão, há um erro de análise e caracterização das correntes de esquerda ao comparar a conjuntura de 2017 com a queda da ditadura militar no Brasil.

No final dos anos 70 e início dos anos 80, o país viveu um forte ascenso oxigenado pela crise econômica e sob um governo militar desde 1964. Esse regime atuava com métodos altamente repressivos contra a classe trabalhadora, instalou o AI5, dissolveu o Congresso Nacional, colocou partidos na ilegalidade e suprimiu diversas liberdades civis. Frente a esse regime repressor, estavam colocadas para o movimento de massas tarefas democráticas para mudar o regime e obter direitos civis como votar para presidente.

A conjuntura de 2017 é completamente diferente: também há um ascenso das lutas acompanhado por um processo de ruptura com o PT; o impeachment da Dilma não significou nenhuma mudança do regime político, ou seja, não saímos de um regime democrático burguês para um regime totalitário, como em 1964. Com o impeachment da Dilma tivemos uma mudança de governo e não do regime, ainda que o governo Temer tente aprofundar o ajuste fiscal iniciado pelo próprio PT.

Importante debate com companheiras e companheiros do MAIS

Vimos com muita preocupação que correntes que reivindicam a tradição morenista estão entre as mais entusiastas da política de “Diretas já”. Neste sentido gostaríamos de abrir um debate com companheiras e companheiros do MAIS. Em nossa opinião esta organização parte de uma caracterização equivocada, de que o governo Dilma sofreu um golpe, que há uma “onda conservadora” em avanço, e que as lutas não têm sido suficientes para gestar alternativas independentes.

Dessa forma, buscam o caminho de fazer frentes com setores burgueses, para derrotar um inimigo pior e comum – que seria uma direita fascistoide – e para isso se utilizam de um eixo democrático. Assim, os companheiros se limitam a propor políticas “possíveis”, devido a uma suposta situação desfavorável “correlação de forças”. Insistem na tese de que as “Diretas não se contrapõem à greve geral”, mas abstraem de que no manifesto de lançamento da Frente não há uma palavra em defesa da greve geral. Somente no cronograma, entre dezenas de tarefas aparece perdida a greve geral de 30/06.

Nenhuma eleição burguesa vai barrar as reformas neoliberais, pois é estratégico para a burguesia recuperar sua taxa de lucro. Em uma eleição sob as atuais regras eleitorais algum candidato da ordem vai vencer, depois de enganar o povo, para em seguida voltar a aplicar as reformas neoliberais, seja PMDB, PSDB ou, REDE, PDT, PSB ou PT/PCdoB. E isso explica o completo ceticismo da população com as eleições burguesas, representado em índices altos de abstenção, votos brancos, nulos e votos-castigo.

O maior perigo que sofremos hoje não são as politicas “ultraesquerdistas”, mas as politicas oportunistas do PT, de Lula e das maiores centrais sindicais burocráticas, como a CUT e CTB, que estão desesperados por costurar um acordão para salvar o governo Temer (PMDB/PSDB) e por isso procuram desmontar a greve geral. É um erro colocar em pé de igualdade o ultraesquerdismo e o oportunismo, diluindo completamente a responsabilidade e a política nefasta das direções burocráticas.

A Frente pelas Diretas é uma reinvenção da Frente Popular!

A Frente Popular busca se reciclar e para isso inventa teses, “novas” teorias e atua sobre as correntes de esquerda para impedir que surjam novas direções combativas. Não basta defender a Frente de Esquerda Socialista como item de propaganda e ser parte ativa da Frente Povo Sem Medo e da Frente pelas Diretas. Essa Frente nada mais é que a reinvenção da Frente Popular, para que Lula volte a governar esse país, respaldado pelas organizações de esquerda. Exemplo disso é a reunião realizada em 18/06. de forma secreta, por Tarso Genro (PT), Lindbergh Farias (PT), Guilherme Boulos (MTST), Ivan Valente (PSOL) e Marcelo Freixo (PSOL) para discutir uma estratégia comum para a esquerda.

Em nossa tradição, é importante recordar que os partidos revolucionários só fazem Frentes com direções operarias burocráticas ou socialdemocratas. O Problema é que os companheiros do MAIS são parte de uma frente com partidos burgueses, elevando a unidade quase a um princípio quando fica claro que a burocracia e as direções burguesas e reformistas a utilizam como uma armadilha mortal para levar a luta operária para o campo da conciliação de classes. Essa frente é programática e em seu manifesto reza: “somente a eleição direta, portanto a soberania popular é capaz de restabelecer a legitimidade do sistema político”. De maneira alguma defendemos que as eleição burguesas são uma expressão da soberania popular, pois se trata de uma armadilha para legitimar o regime democrático burguês, que está em estado de decomposição.

Para os revolucionários, ao contrário dos reformistas – que se utilizam da necessidade de unidade dos trabalhadores para diluir as fronteiras de classe e salvar o regime – a unidade de ação e as frentes sempre exigem delimitação de classe (trabalhadores x burguesia). Portanto, a tática de unidade de ação ou de frentes é desde o início e em todo momento de unidade e de confronto, de ruptura.

A esquerda tem que abandonar a Frente com setores burgueses e construir de fato uma Frente de Esquerda!

É verdade que o impeachment interrompeu relativamente o ciclo de experiência com a velha direção lulista e petista e que conjunturalmente essas direções se fortalecem. Mas não podemos ser impressionistas. O PT é o partido que traiu a nossa classe e que vem perdendo votos e apoio entre os trabalhadores/as e foi um dos partidos mais repudiados na jornada de junho de 2013. E mesmo que Lula volte à presidência da República, diante de uma falta de alternativa eleitoral da esquerda, não voltará a ser direção política da classe e nem mesmo, pela crise econômica, terá condições de repartir “migalhas” para o povo, como fez em 2003.

Por fim, há ainda outro problema com a pauta das “Diretas já”, pois ela não ajuda a fortalecer e unificar a luta. Exemplo disso foi a plenária esvaziada das Diretas que ocorreu no Rio de Janeiro. A Frente pelas Diretas veio para dividir a luta unitária contra as Reformas e pelo Fora Temer, que é o que vem unificando o conjunto da classe trabalhadora, setores populares e a juventude massivamente. O eixo para derrotar Temer e as Reformas neoliberais em curso é manter essa unidade nas ruas.

Por isso é fundamental que os companheiros/as da esquerda, como as correntes do PSOL, o MTST e o MAIS abandonem a Frente Ampla com setores burgueses e junto com PSTU, PCB, CSP-CONLUTAS construam uma alternativa classista, sem os Lulistas, que lutem pela manutenção da greve geral, construindo um programa econômico alternativo, para sair da crise, na perspectiva de um governo da esquerda, dos trabalhadores e do povo.


Extraído de:


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