domingo, 12 de agosto de 2012

Para o capital, mais benesses; para o povo, o Exército


Conforme se acirra a crise econômica no mundo e no Brasil vai ficando cada vez mais evidente o caráter de classe da gestão petista.

A realidade concreta aponta que, ao contrário dos discursos, suas medidas “anticrise” visam unicamente proteger as taxas de lucros dos bancos e das grandes empresas, mantendo assim o processo de acumulação e reprodução do capital no país, e não os trabalhadores.

Na tentativa de ocultar sua política pautada na privatização dos lucros e socialização dos prejuízos, o Governo Dilma apela para a velha estratégia militar do “dividir para conquistar”, tentando jogar os trabalhadores do setor privado contra os do setor público. As voltas com uma onda de greves de servidores públicos de inúmeras categorias, Dilma disse, para não atender suas reivindicações, que a prioridade da sua gestão é proteger os trabalhadores privados, que não possuem estabilidade. [1]

Em uma reprise do que fez o “neocompanheiro” Fernando Collor de Mello em sua gestão, essa divisão intraclasse, fomentada pelo governo petista, visa consolidar a conquista do terreno pelo capital, pois este tem demitido tranquilamente seus trabalhadores sem importunação alguma por parte do governo petista. [2]

A luta dos trabalhadores contra as intenções demissionais da General Motors (GM) em São José dos Campos, obrigou a Presidente Dilma a dar declarações “indignadas” e até fazer “ameaças” ao setor automotivo. Puro jogo de cena! Na última terça-feira (07/08) o Senado aprovou duas Medidas Provisórias (MP) do Executivo onde as montadoras foram “punidas” com mais benesses, incluindo a continuidade do IPI reduzido, inclusive para fabricação de carros no exterior. A medida se torna ainda mais impressionante quando se verifica que a redução do IPI pode acabar em outros ramos da economia. [3]

As M.Ps aprovadas pelo Senado (563 e 564/12), e que já haviam passado pela Câmara dos Deputados, estenderam para 15 os setores que terão desoneração da folha de pagamentos. É uma medida que impacta diretamente na arrecadação da previdência, prejudicando os trabalhadores.
Elas também ampliaram o leque de empresas a serem socorridas pelo Estado, via BNDES, além de destinar mais R$ 45 bilhões do Tesouro para o BNDES subsidiar o capital, o que acarreta em elevação do endividamento público.
Ainda foi incluído um projeto de lei para acabar com a multa adicional de 10% sobre o Fundo de Garantia pelo Tempo de Serviço (FGTS) em caso de demissão sem justa causa.

Como se tudo isso não bastasse ainda foi noticiado que o Governo Dilma prepara, para após as eleições municipais, uma contra-reforma na previdência e outra na legislação trabalhista. [4]


Militarização das lutas sociais

Em uma sociedade de classes não há contradição em uma ponta que não impacte em outra. A ampliação das benesses despejadas para o capital já afetam negativamente a classe trabalhadora brasileira que cada vez mais se joga nas lutas.

É no contexto do aprofundamento da crise econômica e das medidas antipovo do governo petista que deve ser compreendida a onda de greves de servidores públicos que varre o país e não com teorias conspiratórias como a levantada pela colunista da Folha de São Paulo, Eliane Cantanhêde. [5]

É essa conjuntura que explica a crescente rebelião nas bases sindicais, a qual a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não tem conseguido represar, criando uma falsa sensação de “confronto” dessa central, abertamente governista, com o governo petista. Não se pode esquecer que o projeto de reforma trabalhista que está na Casa Civil, e que coloca a primazia do negociado sobre o legislado, é de autoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, filiado à CUT.

Como as lutas tendem a se multiplicar e a atuação de seus agentes no movimento social carece cada vez mais de eficácia, o Governo Dilma resolveu apelar à força bruta e autorizou a utilização do Exército nas lutas sociais. É isso mesmo: o partido que nasceu das greves operárias e que lutou contra a ditadura militar, não só criou uma Comissão da Verdade que não pune os torturadores, como ainda reabilita a ação dos militares na repressão das lutas do povo.

O sistema repressor aprovado por Dilma tem o irônico nome “PROTEGER” e foi apresentado a ela pelo General Enzo Peri. [6] Celebrado pela colunista da Folha como “uma boa lembrança” à “elite do funcionalismo” [idem 5] seu alcance vai além dos trabalhadores públicos e inclui além dos trabalhadores privados, os setores excluídos que resistem:

“O Brasil terá um sistema completo de proteção das instalações estratégicas do País, que será capaz de evitar invasões como a que ocorreu na usina hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, em fevereiro de 2008 (...), quando integrantes do movimento dos atingidos por barragens chegaram à sala de operações e ameaçaram parar a distribuição de energia em grande parte do País.” [idem 6]

O sistema “protegerá” mais de 13.300 locais entre hidrelétricas, termelétricas, refinarias, estradas, telecomunicações, portos, aeroportos e o que mais for considerado “estratégico”. Grande parte desses setores estão em mãos privadas e são palcos frequentes de conflitos sociais, como é o caso das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Atualmente, por exemplo, os 44 mil trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, encontram-se em greve após rebelarem-se contra a burocracia e o peleguismo da direção do sindicato da categoria – alguns dirigentes chegaram a ser apedrejados.

São mais do que conhecidas também as greves dos operários na hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, onde denunciam as precárias condições de trabalho nos canteiros de obra, que em alguns casos resultaram em tragédia.

A obra é tocada com farto dinheiro público mas o consórcio é controlado pela belgo-francesa GDF Suez. Em 2011 o Governo Dilma enviou a Força Nacional para reprimir os operários. No mesmo episódio, o governo que diz proteger os trabalhadores não estáveis, avalizou a demissão de 6 mil operários pois para ele o problema eram as “contratações além do adequado”, ou seja, haveriam trabalhadores demais na obra. Quando em 2012 os operários fizeram outra revolta pelos mesmos motivos o governo petista tachou-os de “vândalos” e “bandidos”. [7]

O sistema “PROTEGER”, aprovado por Dilma, visa unicamente proteger os interesses do capital e para isso ampliará o número de “vândalos” e “bandidos” em todo o país. Assim serão qualificados todos aqueles que, direta ou indiretamente, se mostrar um estorvo para a acumulação, a reprodução e o salvamento do capital.

Esse amplo sistema de militarização evidencia que a “marolinha” chegou com força e que o próximo período será duro para o povo brasileiro, que não terá outra escolha senão se organizar e se mobilizar.


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[1] Dilma diz que prioridade é manter emprego dos que não têm estabilidade (10/08/2012):

[2] Setor automotivo mostra que trabalhadores pagam pela crise no Brasil (05/08/2012):

[3] Senado aprova medidas provisórias que ampliam incentivos para a indústria (07/08/2012):

Benefícios tributários podem acabar (10/08/2012):

10/8/2012 - Senado Federal aprova MPs do novo regime automotivo

[4] GOVERNO PREPARA REFORMAS E VAI 'FATIAR' PACOTE ANTICRISE (03/08/2012):

[5] Diz Eliane em seu artigo que:
Os servidores engoliram sapos e ficaram quietos na era Lula (como CUT, UNE, MST) e resolveram devolver agora com Dilma. Não vão recuar tão cedo.”
Chama o Exército! (09/08/2012):

[6] PROTEGER - Governo terá plano de proteção de R$ 9,6 bi (29/07/2012):

[7] Ministro de Dilma chama trabalhadores de vândalos e bandidos (07/04/2012):
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