domingo, 31 de julho de 2011

Pela saúde financeira dos ricos, pobres são chamados a aceitar a morte nos EUA

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As manchetes dos jornais ao redor do mundo têm dado destaque ao debate no congresso estadunidense sobre o aumento do teto da dívida pública e os cortes que deverão ser feitos no orçamento. Sobre este último há pouca detalhação na grande mídia fora dos Estados Unidos.

Por lá, há uma campanha na grande mídia chamando a população a aceitar cortes profundos na saúde, na aposentadoria e na seguridade social. Nesse contexto chamou atenção o artigo “Death and Budgets” (Morte e Orçamentos) [1], do jornalista e colunista do The New York Times, David Brooks, publicado no último dia 14 de julho.

No artigo, Brooks começa descrevendo o drama de um senhor chamado Dudley Clendinen, publicado no Sunday Review [2], cuja a enfermidade, mesmo com tratamentos médicos, o deixará seriamente debilitado. Em tal situação, Clendinen manifestou preferir a morte.

Partindo desse caso e da preferência deste senhor, Brooks, generaliza e, sem perguntar aos demais enfermos, sugere que estes deveriam aceitar a morte para ajudar na situação fiscal do país:
"But it’s also valuable as a backdrop to the current budget mess. This fiscal crisis is about many things, but one of them is our inability to face death — our willingness to spend our nation into bankruptcy to extend life for a few more sickly months.

The fiscal crisis is driven largely by health care costs. We have the illusion that in spending so much on health care we are radically improving the quality of our lives. We have the illusion that through advances in medical research we are in the process of eradicating deadly diseases. We have the barely suppressed hope that someday all this spending and innovation will produce something close to immortality."

Se antigamente se deveria celebrar os esforços para melhorar e prolongar a vida dos enfermos, ainda que algumas doenças não tivessem cura, agora tais atitudes constituem-se em odiosas irresponsabilidades fiscais, já que acarretariam um custo elevado e desnecessário, uma vez que os infelizes doentes deveriam mesmo é aceitar a cova ao invés de sugar recursos que além de não resolver o seu problema ainda causariam a quebra do orçamento:
"Others disagree with this pessimistic view of medical progress. But that phrase, “marginally extend the lives of the very sick,” should ring in the ears. Many of our budget problems spring from our quest to do that.

The fiscal implications are all around. A large share of our health care spending is devoted to ill patients in the last phases of life. This sort of spending is growing fast. Americans spent $91 billion caring for Alzheimer’s patients in 2005. By 2015, according to Callahan and Nuland, the cost of Alzheimer’s will rise to $189 billion and by 2050 it is projected to rise to $1 trillion annually — double what Medicare costs right now.

Obviously, we are never going to cut off Alzheimer’s patients and leave them out on a hillside. We are never coercively going to give up on the old and ailing. But it is hard to see us reducing health care inflation seriously unless people and their families are willing to do what Clendinen is doing — confront death and their obligations to the living.

There are many ways to think about the finitude of life. For years, Callahan has been writing about the social solidarity model — in which death is accepted as a normal part of the human condition and caring is emphasized as much as curing."

Para Brooks não há dúvida, é preciso aceitar a "finitude" da vida e encarar a morte com "naturalidade":
"In the online version of this column let me provide links to three other essays, which offer other perspectives on why we should accept the finitude of life and the naturalness of death. They are: “Born Toward Dying,” by Richard John Neuhaus, “L’Chaim and Its Limits: Why Not Immortality?” by Leon Kass and “Thinking About Aging,” by Gilbert Meilaender.

Seria preciso "enfrentar a morte", ou seja, os doentes deveriam aceitar morrer, para aliviar a situação fiscal:
"My only point today is that we think the budget mess is a squabble between partisans in Washington. But in large measure it’s about our inability to face death and our willingness as a nation to spend whatever it takes to push it just slightly over the horizon."

David Brooks, obviamente, não é voz solitária. Ele próprio cita os escritos de Daniel Callahan e Sherwin Nuland, publicados no New Republic, para reforçar suas posições:
"In the happy event that this trend is reversed, they write, “Some people may die earlier than now, but they will die better deaths.” They go on to assert that “the public must be persuaded to lower its expectations” about health care, in part by “increasing co-payments and deductibles to a painful level, sufficient to discourage people” from seeking life-prolonging care." [3]

A quem, por acaso, quiser creditar tais propostas a meras loucuras saídas das cabeças insanas desses autores, cabe salientar duas coisas: a primeira é que são colunistas de jornais famosos e a segunda, e principal, é que os cortes na saúde estão previstos no acordo firmado entre Republicanos e Democratas [4], o que deverá levar muitos estadunidenses pobres a aceitar involuntariamente a morte mesmo.

No altar da crise capitalista os pobres são sacrificados para manter intacta a saúde financeira dos ricos, que foram os responsáveis pelo adoecer da economia mundial.


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[1] Death and Budgets. David Brooks. 14/07/2011.
http://www.nytimes.com/2011/07/15/opinion/15brooks.html

[2] The Good Short Life. Dudley Clendinen. 09/07/2011.
http://www.nytimes.com/2011/07/10/opinion/sunday/10als.html?pagewanted=all

[3] The voice of the ruling class. Kate Randall. 18/07/2011.
http://www.wsws.org/articles/2011/jul2011/pers-j18.shtml

[4] Republicanos e democratas chegam a acordo de princípio sobre dívida dos EUA (31/07/2011):
http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/07/31/republicanos-e-democratas-chegam-a-acordo-de-principio-sobre-divida-dos-eua

Ainda sobre o tema:
Os estadunidenses terão que morrer mais cedo. Gerhard Grube. 29/07/2011.
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/07/494810.shtml
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sábado, 30 de julho de 2011

Que partido é este?

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- Se tornou o maior e mais organizado partido de esquerda do seu continente;

- Suas lideranças e militantes foram perseguidos pelo regime opressor da época;

- Conquistaram grande espaço entre os trabalhadores dirigindo vários sindicatos;

- Aumentaram progressivamente as suas bancadas ao utilizar de forma hábil os processos eleitorais;

- Chegaram ao poder e montaram um governo em coalizão com as oligarquias do país;

- Expulsaram aqueles que combateram o curso à direita do partido.




Esse partido é o ...





Calma!

Não é quem você está pensando. Se trata do SPD ( Partido Social Democrata Alemão ), um dos principais partidos da social democracia européia e um dos maiores defensores das teses revisionistas do marxismo. Em 4 de agosto de 1914 a bancada do partido votou a favor dos créditos de guerra, permitindo que os operários alemães entrassem na I Guerra Mundial para defender os interesses da elite alemã. Apenas Karl Liebknecht, também do SPD, votou contra. Foi expulso do partido em 1916 por liderar a oposição a guerra junto com Rosa Luxemburgo. Criaram um novo partido. Em 1918 estoura a revolução alemã, sob a liderança de Karl e Rosa. Em 1919 são capturados e assassinados sob as ordens do SPD que estava no poder. Nos anos seguintes sua política de reformas mostrou-se ineficiente e a crise econômica aguda leva a ascensão do nazismo.


Escrevi em setembro de 2005.
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domingo, 24 de julho de 2011

Tarso prepara pacote fiscal para os empresários

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"O Estado faz renúncia, reduz arrecadação e fica sem dinheiro para investimento. Essas empresas criam um quisto em torno delas, não transmitem tecnologia, não geram mais empregos na cadeia produtiva, o que é um modelo já superado". [1] Estas palavras foram ditas pelo governador Tarso Genro na última semana para defender um pacote fiscal que o seu governo deseja enviar a Assembléia Legislativa ainda em agosto.

Então a proposta do governo é acabar com a farra fiscal para as grandes empresas? Nada disso! O Governo Tarso vai facilitar ainda mais a vida das mesmas:
"Uma nova arma está em preparação no governo gaúcho para enfrentar a guerra por investimentos dentro do país. Com participação de Banrisul e Badesul, está em detalhamento final um subsídio ao financiamento no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do governo federal." [2]

Como diz a matéria do Jornal Zero Hora é uma medida que visa responder "uma queixa antiga de empresários interessados em investir no Estado, mas que encontram taxas de juro subsidiadas pelos programas da Sudene e pelo seu principal executor, o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) - mais baixas - do que as do BNDES. Como o juro no Brasil é um dos mais altos do mundo, qualquer pequena diferença na taxa desestabiliza o cálculo dos projetos." [idem 2]

Sendo assim, o governo petista vai agregar ao modelo de incentivos fiscais, subsídios públicos, pagando parte do empréstimo que os empresários tomarem junto ao BNDES:
"As propostas, que sucederão o recém-aprovado e polêmico programa de sustentabilidade financeira, estão em fase de elaboração na Casa Civil e na Pasta do Planejamento, mas já há a confirmação de que serão feitas alterações no Fundopem. Também será criada a versão gaúcha do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que irá autorizar o Piratini a pagar parte dos juros que incidirão sobre empréstimos feitos junto ao BNDES por empreendedores que pretendem ampliar a produção." [idem 1]

Para tentar enganar e distrair os menos avisados, Tarso fala em exigir contrapartida das empresas:
"Vamos fazer o combate à guerra fiscal e teremos uma nova lei de incentivo. Vamos privilegiar as zonas que têm mais necessidade de investimento, a renúncia fiscal será vinculada à criação de empregos e o estímulo ao desenvolvimento tecnológico e científico será dado às empresas que se enraizarem na nossa base produtiva. Essa é a linha." [idem 1]

Os trabalhadores, por sua vez, não se podem deixar enganar! O Governo Tarso atacou a previdência pública e instituiu o calote nos precatórios alegando problemas fiscais. Menos de um mês depois já despejou inúmeros benefícios para as grandes empresas - muitas multinacionais - e agora prepara um pacote para facilitar ainda mais a vida dos empresários. Para eles têm dinheiro! Eles o Estado banca, subsidia e se endivida! E quem paga a conta é a população gaúcha, que depois ainda é responsabilizada pelos descalabros fiscais do Estado.


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[1] Piratini envia pacote fiscal em agosto (19/07/2011):
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/?Noticia=317590

[2] Tarso muda estratégia para atrair projetos- Zero Hora (19/07/2011):
http://www.pge.rs.gov.br/clipping.asp?ta=5&cod_noticia=4126
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tarso dá 70 milhões para empresa estadunidense

Para as multinacionais têm dinheiro: Governo Tarso dá isenções fiscais e mais 70 milhões para empresa estadunidense

ACORDO - 19-07-2011 - 16h34min

Badesul libera financiamento de R$ 70 milhões para empresa de guindastes

Governador Tarso Genro em audiência com representantes da Empresa Manitowoc Crane Goup


O governo do Estado confirmou o financiamento de R$ 70 milhões, por meio do Badesul, para instalação da empresa Manitowoc Crane Group Guindastes. O acordo, firmado pelo governador Tarso Genro com a companhia norte-americana, permitirá a conclusão das obras até o final do ano. A instalação da fábrica, cuja sede será em Passo Fundo, irá gerar 340 empregos diretos.

Entusiasmado com a instalação da empresa no Estado, Tarso afirmou que a iniciativa reforçará a base produtiva da região Norte. "Esses investimentos que nós atraímos, que se integram, acoplam e enriquecem nossa base produtiva, são aqueles que valem a pena financiar porque trazem riqueza, e não apenas se instalam e ficam fechados em si mesmos", afirmou, acrescentando que Manitowoc já avalia a possibilidade de ampliar suas atividades no RS.

Além da disposição da prefeitura de Passo Fundo em contar com a fábrica, pesou também sobre a decisão do financiamento a intenção da empresa de comprar somente matéria-prima gaúcha. "Em conjunto com a prefeitura e os órgãos de governo, inclusive, com financiamento do Badesul, criamos as condições para este investimento aqui no RS, que valoriza extraordinariamente a cidade de Passo Fundo e o Estado", afirmou Tarso.

O gerente-geral de operações da Manitowoc do Brasil, Mauro Nunes da Silva, disse que a empresa estava dividida entre Rio Grande do Sul e São Paulo. "São praticamente iguais em questões como logística, mão-de-obra e fornecimento, mas começamos a olhar para a questão financeira, como incentivos fiscais. Tanto a prefeitura de Passo Fundo, quanto o governo foram muito mais atrativos para a Manitowoc do que São Paulo", comparou. Mauro frisou que o acordo prevê o financiamento e o parcelamento do ICMS com taxas atrativas, mas a prefeitura disponibilizou o terreno e concedeu isenção do IPTU por um determinado período. "Os R$ 70 milhões são o total do investimento entre obra civil e equipamentos para a produção", informou o gerente.


Extraído de:
http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=3&n=14761
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domingo, 17 de julho de 2011

O real caráter da política ambiental dos Governos Lula e Dilma

Curt Trennepohl, presidente do IBAMA, declarou para TV da Austrália, que sua função não é cuidar do meio ambiente e insinuou que os índios brasileiros serão exterminados.



http://www.youtube.com/watch?v=EUp-Mn4UkmQ


15/07/2011 às 11h32min - Atualizada em 15/07/2011 às 11h32min

Presidente do Ibama causa polêmica em entrevista a TV australiana

O presidente do Ibama, Curt Trennepohl, causou polêmica ao dizer a uma equipe de TV australiana que seu trabalho não é cuidar do ambiente, e sim minimizar impactos ambientais. Depois, sem saber que estava sendo filmado, sugeriu que o Brasil faria com os índios a mesma coisa que a Austrália fez com os aborígenes, população nativa do país da Oceania.

As declarações foram dadas à repórter Allison Langdon, do programa "60 Minutes", que fazia uma reportagem sobre a licença de instalação da usina de Belo Monte, assinada por Trennepohl.

Na entrevista, Langdon confrontou o presidente do Ibama. Disse que seu antecessor, Abelardo Bayma, renunciara devido à pressão pelo licenciamento da usina que, segundo organizações ambientalistas, afetará os índios do Xingu, no Pará.

'TRANQUILO'

A repórter da Nine Network perguntou a Trennepohl se ele estava tranquilo com a decisão de licenciar a obra.

"Sim, a decisão foi minha", respondeu Trennepohl.

"Mas seu trabalho não é cuidar do ambiente?"

"Não, meu trabalho é minimizar os impactos."

Após a entrevista, sem saber que ainda estava com o microfone ligado, Trennepohl tentou argumentar com a jornalista australiana:

"Vocês têm os aborígenes lá e não os respeitam."

"Então vocês vão fazer com os índios a mesma coisa que nós fizemos com os aborígines?", questionou Landgon.

"Sim, sim", respondeu Trennepohl.

Hoje há cerca de 500 mil aborígines na Austrália, compondo menos de 3% da população do país.
Ao longo do século 19, os colonos britânicos que ocuparam a ilha chegaram a conduzir campanhas de extermínio, com recompensas pela morte de aborígines. O caso mais grave foi o da Tasmânia, Estado onde toda a população aborígine não mestiça tinha sumido em 1876.

AGREDIDO

Procurado pela Folha, o presidente do Ibama disse que foi agredido verbalmente pela repórter e que não afirmou "de forma nenhuma" que seu trabalho não era cuidar do ambiente brasileiro.

"Essa moça chegou numa atitude extremamente agressiva, disse que eu estava acabando com os índios."
Segundo Trennepohl, "a função do órgão licenciador é minimizar impactos quando um empreendimento é licenciado. Quando não dá para minimizar, nós indeferimos", afirmou.

Ele disse que não comentaria as declarações sobre os aborígines da Austrália.


Extraído de:
http://www.jornalfloripa.com.br/economia/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=4114

Também disponível em:
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/07/494221.shtml

http://sixtyminutes.ninemsn.com.au/videoindex.aspx?videoid=49f44691-501b-41b9-b753-bb77ee77082b

Alterado em 23/07/2011.
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terça-feira, 12 de julho de 2011

O PT gaúcho empacotarsou!

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"O PT gaúcho é diferente do PT nacional!" Essa assertiva, tão corriqueira nas análises de alguns comentaristas políticos e no imaginário de muitos lutadores sociais sinceros, sofreu um abalo tremendo com a recente aprovação do "Pacote de Sustentabilidade Financeira" pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.

O pacote de medidas, que ficou conhecido como "Pacotarso", atacou a previdência pública - privatizando parte dela e aumentando a alíquota de contribuição - e instituiu o calote em grande parte dos precatórios.

Evidentemente que tais medidas dificilmente seriam implementadas por um governo do PT gaúcho há 10 ou 15 anos atrás. Por isso não foram poucos os que buscaram alento no Governo Olívio.

Tentando confortar os saudosistas, o jornalista petista, Marco Weissheimer, escreveu o artigo "O governo Tarso e algumas gotas de governo Olívio" [1], que teve uma repercussão significativa, onde defende que o Governo Olívio teria tido um início similar ao que está tendo o Governo Tarso.

Não é o ponto deste artigo fazer uma comparação entre o início dos dois governos e nem considero que isso seja suficiente para compreender o que está ocorrendo. No entanto, apesar das inúmeras críticas à esquerda que possam e devam ser feitas ao Governo Olívio, considero descabida a analogia do início do seu governo com o de Tarso feita por Weissheimer.

As alianças com a direita (até o PP quase entrou no Governo Tarso), a ampliação de benesses às multinacionais [2] e o ataque à luta pela terra do MST [3] não fizeram parte do Governo Olívio. Tampouco o ataque à previdência pública. São alguns exemplos que bastam para demonstrar a diferença entre um governo e outro.

No entanto este artigo não acredita que bastariam algumas "gotas de governo Olívio" no governo Tarso, até porque estas gotas já secaram há tempos. O PT gaúcho não passou incólume pelo processo de adaptação à ordem pelo qual passou o PT nacional. Longe de ter alguma gota do passado, o PT gaúcho foi inundado pelos ensinamentos do PT nacional, os quais recebeu de muito bom grado com as "comportas" bem abertas. Por isso, mesmo um Governo Olívio hoje seria diferente do que foi no passado. Este artigo aborda esse processo de transformação do PT gaúcho que há muito não se diferencia do PT nacional como imaginam alguns.


A agência do PT gaúcho no seu processo de adaptação e acomodação

É preciso deixar claro que o PT gaúcho não foi uma simples vítima da política do PT nacional. O partido foi desenvolvendo em nível local lideranças políticas e galgando cargos na administração estatal. Foi adaptando-se aos poucos e muitos problemas de burocratização de inúmeros de seus dirigentes já eram visíveis na Prefeitura de Porto Alegre, tida como uma referência nacional do "modo petista de governar".

O processo seguiu se desenvolvendo mas foi no Governo Lula que as contradições se tornaram mais evidentes aos olhos de parcelas do grande público. Isso porque vários dirigentes de prestígio do PT gaúcho integraram - e ainda integram - o governo federal e apoiaram - e apóiam - suas políticas privatistas e de ataques aos trabalhadores. Olívio Dutra, por exemplo, apoiou a Reforma da Previdência.

Menos de um ano depois de denunciar o então candidato do PMDB ao governo do Estado, Germano Rigotto, por votar contra os aposentados, o PT gaúcho apoiava os ataques do seu governo em nível nacional que prejudicava os aposentados e privatizava parte da previdência. Não bastasse isso alguns de seus dirigentes apoiaram a expulsão dos chamados parlamentares "radicais" (Babá, Luciana Genro e Heloísa Helena) por estes defenderem naquele momento o que o PT gaúcho defendia há menos de um ano!

No período da polêmica dos "radicais", o Senador Paulo Paim, tentando posar de coerente, concedeu uma entrevista para a TVE onde afirmou que deixaria o partido caso a Reforma da Previdência fosse aprovada. Como se sabe tal reforma foi aprovada e Paim se manteve no PT até os dias de hoje.

No auge do escândalo do mensalão, Olívio Dutra culpou as más-companhias - os partidos de direita aliados do Governo Lula. Inconsequente com as suas próprias caracterizações Olívio saiu elogiando o governo depois de ser substituído por um homem indicado por Severino Cavalcanti. Mais adiante, como veremos na sequência, o próprio Olívio foi buscar "más-companhias" para compor chapas e apoios eleitorais.

Ainda neste período o PT gaúcho agitou a bandeira da "refundação do PT". Tarso Genro se tornou presidente nacional do partido. Como o tempo demonstrou, o PT não só não foi refundado como chafurdou ainda mais na lama da corrupção e do neoliberalismo. Se naquela época o PT gaúcho criticou dirigentes como Delúbio Soares e José Dirceu, hoje não os repudia, tendo a corrente de Tarso Genro lavado as mãos sobre o retorno de Delúbio e Dirceu convidado recentemente pelo PT gaúcho para promover cursos de formação política. [4]




a) As "más-companhias" viraram boas parcerias

Se em 2005 Olívio Dutra culpou as "más-companhias" pela corrupção do seu partido, menos de um ano depois o mesmo Olívio buscou apoio das "más-companhias" no segundo turno das eleições para o governo do Estado em 2006. Na disputa contra a tucana Yeda Crusius, Olívio buscou o apoio do PMDB e de Germano Rigotto: "Há sintonia na visão dos dois partidos", anunciou o "bigodudo" na época. (Correio do Povo, 05/10/2006). Porém acabou se desmoralizando duplamente pois além de entrar em contradição com o seu discurso ainda ouviu um sonoro "não!" do PMDB.

Em 2008 um descolado Olívio Dutra, com chapéu e bermuda, posou para os flashes jornalísticos ao lado de Berfran Rosado (PPS), outrora fervoroso opositor do seu governo, para selar a aliança do PT com o "brittense" PPS em Cidreira. [5]

No mesmo ano, na cidade de Canoas, o PT gaúcho não se contentou em se aliar somente com a turma do ex-governador Antônio Britto e agregou o DEM e o PP, cuja vice da chapa, Beth Colombo, iniciou sua trajetória política na Arena. [6] O PP que pode ser aliado do PT em Porto Alegre em 2012. [7]

Aos eleitoralistas que argumentam não haver outra forma de governar lembramos das palavras do próprio Olívio Dutra em 1998:
"...temos a experiência de governar sem ser maioria no Legislativo. Há dez anos governamos Porto Alegre e nunca tivemos maioria no Legislativo do município." [8]

É um Olívio bem distinto do dos dias de hoje:
"Em uma das pausas, Olívio disse à presidente da Câmara, Maria Celeste (PT), que é prioridade para o partido ampliar o leque de alianças na Capital..." [9]

É por estas e outras que um Governo Olívio hoje seria bem distinto do que fora no passado e provavelmente decepcionaria muitos lutadores sociais honestos.

b) Uma "oposição" amiga



As "más-companhias" não viraram boas parcerias apenas nos momentos eleitorais. O PT gaúcho tem sido uma "oposição" amiga que procura a velha direita para colaborar na aplicação de medidas neoliberais. Foi assim, por exemplo, em 2006 quando a bancada do partido na Assembléia Legislativa apoiou o "Pacto Pelo Rio Grande", um acordão neoliberal entre os partidos da ordem que pelo teor das suas medidas deveria ter sido chamado de "Pacto Contra o Rio Grande".

Cézar Busatto, outrora antipetista doentio, foi um dos principais idealizadores e difusores do tal "Pacto". Foi com ele que o PT gaúcho se abraçou para aprovar o "Pacto". Mas a amizade do PT gaúcho com Busatto iria além: em 2009 o Prefeito de Canoas, Jairo Jorge, nomeou-o para a Secretaria Especial de Estratégia e Inovação, poucos meses depois dele ter deixado o Governo Yeda devido a divulgação de uma escuta telefônica com o então vice-governador Paulo Feijó, onde Busatto expunha com uma frieza assustadora como se operavam os processos de corrupção no interior das estatais. A repercussão negativa na opinião pública local tornou a nomeação de Busatto insustentável e teve de ser revogada.

Como já foi dito, a postura do PT gaúcho no parlamento, cumprindo o papel de "oposição", tem sido não apenas inofensiva mas colaborativa. O PT não apenas tem sido inconsequente em relação a seus concorrentes, mesmo dentro dos marcos da via eleitoral - como atesta seus inúmeros vacilos diante dos escândalos de corrupção no desastroso Governo Yeda - como os têm ajudado a implementar medidas prejudiciais à população.

Foi assim, por exemplo, quando o partido ajudou Yeda a aprofundar o endividamento do Estado buscando empréstimo junto ao Banco Mundial. Na disputa dos "dividendos" políticos dessa "conquista" o Senador Paulo Paim fez, em Brasília, o que ficou conhecido como uma "vigília pelo Rio Grande do Sul". Seria mais adequado chamar de "vigília pelo capital financeiro".

Uma vez consumado o empréstimo, o PT gaúcho resmungou que Yeda queria "capitalizar sozinha" os louros dessa "conquista".

Foi com a ajuda desse empréstimo que o Governo Yeda alardeou que havia "equilibrado" as contas do Estado. Uma "conquista" fantasmagórica, como o próprio PT pode constatar na sequência de uma História que ele próprio ajudou a escrever.



Igual ao de "lá"



ELEIÇÃO 2010: PAIM PEDINDO VOTO EM RENAN CALHEIROS
http://www.youtube.com/watch?v=m6wYFtdSKPw&feature=related

Os fatos descritos acima mostram que o PT gaúcho como diferente do PT nacional é um mito há muito insustentável. Seus principais dirigentes, mesmo o mais respeitado, não só apóiam o PT nacional na gestão federal como aplicam no Rio Grande do Sul as mesmas medidas.

O Governo Tarso vem falando, desde a campanha eleitoral, que as gestões Lula e Dilma são a fonte da sua inspiração. Os ataques à previdência e o calote nos precatórios do Pacotarso assim como as benesses ao grande capital demonstram que tal assertiva não é apenas discurso.

E por falar em pacotes, já é possível dizer que, do ponto de vista da transformação social, o PT gaúcho empacotou, ou para empregar um termo novo, mais atual e adequado: empacotarsou!


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[1] O governo Tarso e algumas gotas de governo Olívio (29/06/2011):
http://rsurgente.opsblog.org/2011/06/29/o-governo-tarso-e-algumas-gotas-de-governo-olivio/

[2] Para as multinacionais têm dinheiro, anuncia Governo Tarso
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/07/para-as-multinacionais-tem-dinheiro.html

[3] O MST está perdendo a razão de existir
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/06/o-mst-esta-perdendo-razao-de-existir.html

[4] Encontro Estadual de Formação
http://www.ptrs.org.br/?p=2872

Em Porto Alegre, José Dirceu diz que Brasil será um dos grandes do mundo em 10 anos (11/06/2011)
http://sul21.com.br/jornal/2011/06/em-porto-alegre-jose-dirceu-diz-que-brasil-sera-um-dos-grandes-do-mundo-em-10-anos/

[5] Outros tempos, Rosane de Oliveira, colunista de Zero Hora, 28/01/2008:
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1748950.xml&template=3916.dwt&edition=9197§ion=71

[6] PP e PT juntos, Rosane de Oliveira
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1956622.xml&template=3916.dwt&edition=10037§ion=71

[7] PP e PT discutem possibilidade de aliança em 2012
http://www.ptpoa.com.br/txt.php?id_txt=3329

[8] Galo missioneiro: Conhecido por ser bom de briga, o governador eleito do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, passa a ser a vitrine do modo petista de governar. Entrevista à IstoÉ, 1998:
http://www.terra.com.br/istoe/vermelha/152602.htm

[9] Jornal Zero Hora, 24/08/2007:
http://www.clicrbs.com.br/jornais/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&edition=8327&template=&start=1§ion=Pol%EDtica&source=Busca%2Ca1598208.xml&channel=9&id=&titanterior=&content=&menu=23&themeid=§ionid=&suppid=&fromdate=&todate=&modovisual
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domingo, 3 de julho de 2011

Para as multinacionais têm dinheiro, anuncia Governo Tarso

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"As empresas terão o que precisam para funcionar."
Marcelo Danéris, secretário executivo do CDES-RS

"Vai ter dinheiro. Guaíba é prioridade."
Tarso Genro, governador do Estado [1]


No artigo "O Pacotarso, o RS e a Grécia" [2] abordei como o discurso do atual governo do Estado era incoerente e incorreto: se por um lado aumentava as benesses para os apadrinhados políticos e para as grandes empresas, por outro difundia a ideia de que caso o "Plano de Sustentabilidade Financeira" - que privatizava a previência, aumentava a alíquota de contribuição dos servidores e promovia o calote nos precatórios - não fosse aprovado seria instalado o caos e o Estado do Rio Grande do Sul passaria por "uma crise grega".

Abordei também que, em benefício do capital, o Governo Tarso, que se inspira no modelo de "desenvolvimento" dos Governos Lula e Dilma, tinha um programa de "desenvolvimento" que, como o de seus companheiros de partido, aumentaria o endividamento do Estado. O que está em andamento na cidade de Guaíba confirma de forma irrefutável tal premissa.

Na segunda-feira (27/06), véspera da votação do pacote do seu governo, Tarso Genro esteve em Guaíba, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, para inaugurar as obras no terreno que foi destinado a uma "Zona Mista", uma área industrial que deverá abrigar um conjunto de várias empresas.

Por enquanto estão confirmadas a estadunidense Terex Latin América Comércio de Equipamentos Pesados de Construção Ltda e a binacional (Brasil-Argentina) Fate Pneus do Brasil.
International Pet, Global Holding Brazil, Gaya Extração e Transportes Florestais Ltda, Química Indústria Supply Ltda e LG Tech Indústria e Comércio de Produtos Mecânicos, Elétricos e Eletrônicos também devem se instalar na "Zona Mista". [3]

O governo estadual investirá 100 milhões na área para deixá-la ao gosto das multinacionais. E enquanto o empréstimo do BNDES e do BIRD não chegam o governo vai tirar do próprio orçamento, sendo mais de 20 milhões apenas neste ano. [idem 1]

"Vai ter dinheiro. Guaíba é prioridade", garantiu o governador Tarso Genro. [idem 1]

"O ritmo de obras será prioridade. As empresas terão o que precisam para funcionar", prometeu o secretário executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS), o Conselhão, Marcelo Danéris. [idem 1]

É uma realidade bem distinta da difundida para os servidores públicos e a população em geral. E tal realidade anima e agrada as multinacionais, como deixam evidentes as palavras de Jacob Thomas, presidente da Terex Latin America:
"O Estado se comprometeu a nos dar infraestrutura, recursos humanos e uma rede de fornecedores que vão nos permitir ser competitivos globalmente. Nossa parceria está apenas começando." [4]

De fato é uma realidade da qual as multinacionais não têm do que se queixar. A Fate Pneus, por exemplo, terá a sua fábrica "erguida com ajuda de financiamento público – por meio de uma parceria entre os bancos BRDE, Banrisul e Badesul. O aporte será utilizado na execução das instalações, serviços e também da aquisição de equipamentos." [5]

Como se tudo isso não bastasse a Secretaria de Desenvolvimento e Promoção do Investimento garantiu que o governo estadual deverá acenar com ainda mais benesses para que outras empresas se instalem na "Zona Mista". [idem 4]

Muitos já haviam percebido a incoerência do discurso do Governo Tarso, que como seus antecessores, prega ajustes para os servidores e o conjunto da população gaúcha e amplia benesses para os apadrinhados políticos e o grande capital. O que a maioria ainda não percebeu, e o caso de Guaíba mostra de forma explícita, é que o governo está aprofundando o endividamento do Estado para beneficiar o grande capital. E como já foi dito:
A sequência dessa História já é mais do que conhecida: após se empanturrar com os financiamentos públicos que aumentam o endividamento do Estado as classes dominantes serão as primeiras a berrar contra o Estado "perdulário" e exigir mais um pacote para evitar "uma crise grega". [idem 2]

Que os gaúchos não se deixem enganar!

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[1] Infraestrutura é novo teste da área industrial de Guaíba (24/06/2011):
http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=65828&fonte=capa

[2] O Pacotarso, o RS e a Grécia (30/06/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/06/o-pacotarso-o-rs-e-grecia.html

[3] Governo dá início a obras de R$ 100 mi na Área Industrial de Guaíba
http://www.ptrs.org.br/?p=3010#more-3010

[4] PT e Guaíba acertam as contas no antigo terreno da Ford (27/06/2011):
http://sul21.com.br/jornal/2011/06/pt-e-guaiba-acertam-as-contas-com-chega-de-empresas-na-antiga-area-da-ford/

[5] Fate do Brasil dá a largada em fábrica de pneus em Guaíba (27/06/2011):
http://www.sindipneus.com.br/noticias/pdfs/b8l8db0f1w2o.pdf
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