sábado, 30 de abril de 2011

Governo Tarso concede isenções fiscais à Braskem

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Enquanto o governo gaúcho pede paciência aos servidores e aos trabalhadores escorado no argumento do déficit das finanças públicas do Estado, por outro concede aumentos vigorosos aos apadrinhados políticos e anuncia benefícios fiscais para as grandes empresas.

Em medidas que lembram o trágico Governo Yeda, o Governo Tarso aplica o "inevitável" ajuste fiscal apenas no andar de baixo. Para os amigos e as classes dominantes as torneiras estão sempre abertas.



Braskem vai investir R$ 300 milhões no RS

Notícia publicada às: 29/03/2011 18:41

Após algumas semanas de negociações que envolveram as secretarias da Fazenda e de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, a Braskem garantiu ao governador Tarso Genro que investirá R$ 300 milhões na duplicação da produção de butadieno no Polo Petroquímico de Triunfo. O produto é a matéria-prima utilizada na indústria de pneus e de borrachas em geral, oportunizando o crescimento da cadeia de elastômeros no Estado.

A confirmação foi feita pelo vice-presidente de Relações Institucionais da empresa, Marcelo Lyra, e pelo membro do Conselho de Administração, Alfredo Tellechea, durante reunião ocorrida hoje no Palácio Piratini.

"A decisão, que ainda precisará ser ratificada pelo Conselho de Administração da empresa, foi influenciada pela visão estratégica do Governo visando o crescimento do Estado e está alinhada com o compromisso da Braskem com o desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul", afirmou Lyra.

O Governo do Estado garantiu a isenção de ICMS na importação de máquinas e equipamentos que não sejam produzidos no Rio Grande do Sul e que cheguem ao Brasil por portos gaúchos. Além disso, não cobrará impostos sobre máquinas e equipamentos adquiridos de empresas gaúchas e autorizou a Braskem a pagar fornecedores do Estado com parte dos créditos.

"Nossa equipe agiu com muita responsabilidade. Os incentivos que estamos concedendo trarão benefícios na geração de emprego e renda, mas também para toda uma cadeia produtiva gaúcha que terá privilégios na venda de máquinas e equipamentos para a Braskem. Desta forma, nós valorizamos e beneficiamos outras regiões", ressaltou o governador Tarso Genro.

Extraído de:
http://www.ultimoinstante.com.br/setores-da-economia/setor-petroquimica/40213-Braskem-vai-investir-300-milhes.html

Também disponível no site da Braskem sob o título "Governo do Estado garante investimento de R$ 300 milhões da Braskem":
http://www.braskem.com.br/site/portal_braskem/pt/sala_de_imprensa/sala_de_imprensa_detalhes_10510.aspx
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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O casamento e o real

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.Fosse a Inglaterra um país indesejado pelas classes dominantes capitalistas globais o casamento do princípe William e de Kate Middleton estaria sendo duramente questionado, o fato de ainda persistir por aquela terra uma realeza seria apontado como uma aberração anacrônica detestável que deveria ser varrida da face da terra para todo o sempre e a ostentação em meio ao aumento da precariedade da vida da maioria do povo com os cortes do governo seriam contrastados e evidenciados repetidamente até a exaustão.

A postura da mídia terceiro-mundista, e em particular a brasileira, é exatamente o oposto de tudo isso. O casamento real é apresentado como um "conto de fadas" a ser venerado e invejado pelas mulheres de todo o mundo, a ostentação é celebrada como parte desse "sonho" e o casal tem o seu suposto lado "simples" destacado. Apelam à emoção para fugir à razão!

O casamento real permitiu às classes dominantes inglesas desviar um pouco o foco de sua atual política de ataques a classe trabalhadora de seu país. O governo britânico, após socorrer os banqueiros e grandes empresários [1], está promovendo agora um corte de 81 bilhões de libras (130 bilhões de dólares) [2] que afetará as áreas sociais, a previdência, os serviços públicos e promoverá o desemprego de meio milhão de pessoas.[3] Não foi por acaso que no último dia 26 de março uma multidão tomou as ruas de Londres em protesto.

De acordo com economistas o casamento real poderá incrementar até 620 milhões de libras na economia britânica.[4] É uma quantia insignificante perto do corte profundo que certamente arruinará o casamento de muitos trabalhadores daquele país. Mesmo assim as classes dominantes da metrópole e seus subservientes nas semi-colônias falam como se isto fosse salvar a economia e a situação da classe trabalhadora inglesa.

Por outro lado o primeiro ministro, David Cameron, garantiu que seu governo não promoverá cortes de verbas para o casamento do príncipe.[5] É verdade que o pacote do governo chegou a atingir algumas extravagâncias da Rainha Elizabeth, principalmente no ano passado. Mas nem se compara com a patrola que está aniquilando o padrão de vida dos trabalhadores ingleses que cada vez mais mergulham em uma pobreza "Vitoriana".[6] Enquanto isso, em 2009, a Rainha chegou ao ponto de ter que pedir mais dinheiro ao governo, além do que já recebe por ano, para cobrir seus gastos.[7]

A monarquia, ao invés de questionada, é festejada por sua suposta "abertura" à modernidade. Claro, questionar a realeza significa ir nas raízes do arranjo político que manteve essa classe parasitária no interior da sociedade. E isso será constrangedor, ainda mais em se tratando de um país "modelo".

Foi há mais de 300 anos, precisamente em 1688, que um golpe de Estado arquitetado pela filha (Maria II), o genro (Guilherme), a encorpada burguesia e setores da nobreza derrubou o Rei Jaime II e foi estabelecido um acordão que permitiu à burguesia legitimar o seu modelo de sociedade através das instituições políticas ao mesmo tempo em que manteve acomodada a realeza parasitária. O golpe de Estado recebeu o pomposo nome de "Revolução Gloriosa".

Os dirigentes estadunidenses, após a guerra de independência, no século XVIII, muito zombaram do regime inglês pela manutenção da realeza. Hoje, em pleno século XXI, assistimos nossas classes dominantes, como bons súditos colonizados obedientes, festejar a suposta "modernização" de uma instituição social questionada por homens de séculos passados. Os republicados ingleses, que defendem a abolição da nobreza, já sentiram o impacto da "modernidade real": eles tiveram um pedido de realizar um ato no dia do casamento negado pelas autoridades. Aos afobados de plantão cabe a ressalva de que os republicanos ingleses são tão socialistas quanto o eram os estadunidenses do século XVIII.


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[1] Inglaterra anuncia pacote de até US$ 1 trilhão
"O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown anunciou nesta quarta-feira que seu governo pretende colocar nada menos que cerca de US$ 1 trilhão, montante equivalente a um terço da produção econômica anual britânica, estará potencialmente à disposição dos oito principais bancos do país." (Diário do Pará, 09/10/2008)
http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-6368-INGLATERRA+ANUNCIA+PACOTE+DE+ATE+US$+1+TRILHAO.html

Governo britânico lança 2º pacote de ajuda a bancos (19/01/2009):
http://www.estadao.com.br/noticias/economia,governo-britanico-lanca-2-pacote-de-ajuda-a-bancos,309313,0.htm

Governo britânico deve anunciar novo pacote econômico
"O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown, deve anunciar nesta semana um novo plano de resgate bancário, segundo o jornal britânico The Daily Telegraph. Este seria o terceiro pacote do governo britânico na atual crise financeira. Ainda de acordo com a edição desta segunda-feira do Daily Telegraph, o novo resgate seria de 500 bilhões de libras (730 bilhões de dólares)." (Veja Online, 23/02/2009):
http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/governo-britanico-deve-anunciar-novo-pacote-economico

[2] Manifestantes entram em confronto com a polícia em Londres (24/11/2010)
http://m.estadao.com.br/noticias/internacional,manifestantes-entram-em-confronto-com-a-policia-em-londres,644684.htm

Milhares de britânicosdes protestam em Londres contra cortes do governo (26/03/2011):
http://www.portugues.rfi.fr/europa/20110326-milhares-de-britanicos-protestam-em-londres-contra-cortes-do-governo?quicktabs_2=1

[3] Austeridade no Reino Unido cria 500 mil desempregados (10/06/2010):
http://aeiou.expresso.pt/austeridade-no-reino-unido-cria-500-mil-desempregados=f587542

Governo britânico anuncia maior pacote de austeridade do pós-guerra (20/10/2010):
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6133092,00.html

[4] Casamento real injetará R$ 1,6 bi na economia do Reino Unido (24/04/2011):
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/906484-casamento-real-injetara-r-16-bi-na-economia-do-reino-unido.shtml

[5] Governo britânico não economizará em festa de casamento do príncipe William, diz primeiro-ministro (06/02/2011):
http://noticias.r7.com/internacional/noticias/governo-britanico-nao-economizara-em-festa-de-casamento-do-principe-william-diz-primeiro-ministro-20110206.html

[6] Pobreza "Vitoriana" na Inglaterra (21/12/2009):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2009/12/pobreza-vitoriana-na-inglaterra.html

[7] Custo da família real britânica chega quase a R$ 133 mi ao ano (29/06/2009):
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,custo-da-familia-real-britanica-chega-quase-a-r-133-mi-ao-ano,394832,0.htm
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quarta-feira, 6 de abril de 2011

A história das coisas

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Vídeo que aborda, de forma bem didática, o modo de funcionamento do sistema capitalista com os seus respectivos impactos sociais e ambientais.


http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E
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domingo, 3 de abril de 2011

Bradley Manning e os "valores estadunidenses"

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Há poucos dias o mundo assistiu a um discurso do Presidente Barack Obama onde este evocava a defesa dos "valores estadunidenses" para justificar a intervenção imperialista na Líbia. [1]
Tais valores seriam os direitos humanos, as liberdades individuais e a democracia; itens os quais os Estados Unidos, nas palavras dos seus sucessivos dirigentes, seriam os campeões da defesa e da prática.

O que Obama supostamente defende e cobra no plano externo - já que é preciso lembrar que os Estados Unidos são amigos de muitos regimes que não praticam tais valores - não se verifica muito no plano interno. Pelo menos é o que atesta explicitamente o caso do jovem soldado de 23 anos, Bradley Manning.

Manning está preso desde julho de 2010 sob a acusação de "conluio com o inimigo". [2]
Qual conluio? Ele é suspeito de vazar documentos para o Wikileaks onde constam crimes de guerra e embaraços comprometedores da diplomacia internacional. Ele teria sido também o responsável por divulgar um vídeo onde soldados estadunidenses assassinaram civis iraquianos desarmados - crianças inclusive!

Mas se estas são as acusações que pesam sob os ombros de Manning quem seria o inimigo com o qual ele estaria em conluio? Tal inimigo seria o direito de acesso a informação? Seria a verdade dos fatos que o regime, "modelo a ser seguido", quer esconder?

Fosse Bradley Manning soldado de um regime inimigo dos Estados Unidos certamente assistiríamos a discursos inflamados de Obama e Hillary Clinton em defesa deste que seria um "herói dos direitos humanos" que teria tido a "coragem de denunciar os excessos de um regime bárbaro que havia praticado crimes contra a humanidade" e estariam em campanha internacional por um "Nobel da Paz" ao jovem.

Mas como não é o caso, assistimos a P.J. Crowley, porta-voz de Hillary Clinton, ser forçado a pedir demissão após criticar a tortura a qual havia sido submetido o jovem soldado na prisão. Crowley não criticou a prisão, pois a defende, mas os excessos. Ele se deu conta, minimamente, da contradição constrangedora do discurso do império com a sua prática:
"Meus comentários tiveram a intenção de chamar atenção para o impacto maior e estratégico de ações das agências de segurança nacional em nossa liderança global"
(...)
"O exercício do poder no ambiente atual de desafios e de uma mídia persistente deve ser prudente e coerente com nossas leis e valores."
[3]

Obama, que durante a campanha eleitoral chegou a dar declarações de repúdio aos tratamentos dados a prisioneiros sob responsabilidade dos Estados Unidos e prometeu providências, considerou "apropriado" o tratamento dado a Manning na prisão.
"Eu perguntei ao Pentágono se os procedimentos de confinamento (de Manning) são apropriados ou não e se estão de acordo com as novas normas básicas. Eles me asseguraram que estão". [4]

A organização estadunidense Aclu, que defende os direitos civis, revelou quais são as condições "apropriadas" do prisioneiro, em carta enviada ao Secretário da Defesa, Robert Gates:
"Escrevemos ao senhor para expressar nossa grande preocupação com as condições desumanas em que está detido o soldado Bradley Manning na prisão militar de Quantico"
(...)
"A Suprema Corte estabeleceu que o governo viola a VIII emenda da Constituição proibindo castigos cruéis e não habituais quando ''inflige um sofrimento arbitrário e sem motivo''
(...)
"Nenhuma razão legítima justifica deixar Bradley Manning (...) em isolamento sem qualquer atividade, privado de sono, com as inspeções multiplicadas durante a noite, sem a possibilidade de se exercitar, mesmo em sua cela, e sem seus óculos para que não possa ler"
(...)
O Pentágono "não tem mais motivo legítimo para exigir que o soldado Manning que fique totalmente nu, de pernas afastadas, com as genitais expostas diante dos guardas e agentes presentes" (...) "O real objetivo de um tratamento como esse é humilhar e traumatizar"
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Manning encontra-se em tal situação sem que tenha sido sequer condenado. Se for, pode pegar prisão perpétua. Mas houve até quem, na "terra da liberdade", chegou a defender a aplicação da pena capital - a qual de fato ele corria o risco de ser sentenciado.

O jovem soldado não é o único a ter os supostos "valores estadunidenses" violados. Recentemente 35 pessoas foram presas na Virgínia por fazer um ato em solidariedade a ele, evento que reuniu 400 pessoas. Entre os presos estavam Daniel Ellsberg, que vazou os "Papeis do Pentágono" durante a guerra do Vietnã, e Ann Wright, Coronel que se opôs a invasão do Iraque. [6]

O país que mantém um preso político, encarcerado sem condenação e torturado, reprime a liberdade de opinião e expressão; busca convencer o mundo de que está invadindo países para exportar seus "nobres" valores. Acredita quem quer e apóia quem se beneficia!


Abaixo segue o vídeo, que teria sido divulgado por Manning, sobre um crime de guerra praticado pelo exército dos Estados Unidos no Iraque:


http://www.youtube.com/watch?v=5rXPrfnU3G0&has_verified=1&oref=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fverify_age%3Fnext_url%3Dhttp%253A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%253Fv%253D5rXPrfnU3G0%2526has_verified%253D1

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[1] Triste ironia da História: recolonização da África é estabelecida por um líder negro (28/03/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/03/ironia-da-historia-recolonizacao-da.html

[2] Bradley Manning é acusado de 'conluio com o inimigo' (03/03/2011):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2011/03/bradley-manning-e-acusado-de-conluio.html

[3] Porta-voz de Hillary renuncia após críticas a caso WikiLeaks (14/03/2011):
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/888264-porta-voz-de-hillary-renuncia-apos-criticas-a-caso-wikileaks.shtml

[4] Comentários afastam assessor de Hillary (14/03/2011):
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110314/not_imp691583,0.php

Obama defende tratamento dado a suspeito do WikiLeaks na prisão (11/03/2011):
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/887411-obama-defende-tratamento-dado-a-suspeito-do-wikileaks-na-prisao.shtml

[5] WikiLeaks: denunciada más condições de prisão de soldado (16/03/2011):
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI4996957-EI8141,00-WikiLeaks+denunciada+mas+condicoes+de+prisao+de+soldado.html

[6] Wikileaks: 35 presos em protesto a favor de Bradley Manning nos EUA (23/03/2011):
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticia/WIKILEAKS+35+PRESOS+EM+PROTESTO+A+FAVOR+DE+BRADLEY+MANNING+NOS+EUA_10661.shtml

AFP: Trinta pessoas presas durante manifestação pró-soldado do WikiLeaks (21/04/2011):
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5gIa9Xs_VWy6GKjYt_lzJDh-n9Olw?docId=CNG.ebde7defc38231277e5314d8eb0d2c60.161
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sábado, 2 de abril de 2011

Wikileaks: Brasil no Haiti e o mito da política externa progressista

Depois de ventilar a possibilidade de reincluir Aristide na política haitiana, diplomacia brasileira cedeu e mudou o tom a pedido das oligarquias locais.[*] Mais uma vez fica desmascarada a propaganda governista de uma política externa progressista.


Haiti: Como o Brasil se voltou contra Aristide
Posted on 14/01/2011 by Natalia Viana

Marco Aurélio Garcia, assessor especial da presidência para assuntos internacionais do governo Lula – visto em geral como adversário pelos EUA – foi fundamental na posição firme do Brasil em apoiar o governo haitiano que sucedeu à queda de Jean-Bertrand Aristide.

Telegramas publicados hoje pelo WikiLeaks mostram que ele foi o principal articulador da determinação brasileira em evitar um retorno de Aristide ao país.
Garcia visitou o país em novembro de 2004, reunindo-se com políticos, religiosos, ativistas e representantes de organizações internacionais, que o fizeram mudar de ideia.

Ele teria viajado pensando que Aristide poderia ser um interlocutor político.

Segundo o seu assessor, Marcel Biato, que também esteve no país, Garcia voltou com a impressão de que Aristide um “gângster”, envolvido em ilegalidades e que chegava até a “encomendar assassinatos pelo celular”, relata um telegrama enviado em 22 de novembro de 2004. Para ele, Aristide não deveria retornar à política haitiana “sob nenhuma circunstância”.

Biato teria afirmado que Aristide devia ser “exorcizado”, se possível por alguma forma de julgamento no país. Para Biato, “a grande questão estratégica é como criar uma esperança para o futuro entre os haitianos que não seja ligada a Aristide.”

Biato concluiu ainda que “a avaliação altamente negativa de Aristide está sendo ouvida por Lula e outras autoridades do alto escalão do governo”, o que seria levbado em conta na decisão sobre o envio de um emissário “informal” do governo para encontrar Aristide na África do Sul, ond estava exilado.

A possibilidade estava sendo ventilada dentro do governo.

Mas Biato avalia que, pelo contrário, o governo brasileiro deveria ligar para o então presidente sul-africano, Thabo Mbeki, para “expressar preocupação sobre a aparente liberdade que Aristide goza ao incitar violência e provocações desde seu enclave na África do Sul”

Mantendo Aristide fora do país

Outro embaixador que expressou oposição forte à influência de Aristide foi Antônio Patriota, atual chanceler brasileiro.

Para ele, a “mera existência de Aristide será sempre problemática em termos da sua influência em alguns elementos da sociedade haitiana, por mais que a comunidade internacional trabalhe para isolá-lo”, descreve um documento de 10 de junho de 2005.

Ele disse ainda que era importante incluir no diálogo político integrantes do partido Lavalas, (ao qual pertencia o presidente deposto) que quisessem “deixar Aristide para trás”.

Em 19 de agosto de 2005, Celso Amorim reclama ao embaixador Danilovich sobre as verbas americanas para projetos humanitários que deveriam se seguir aos ataques “robustos” da Minustah contra as gangs na capital do país.

Citando críticas de ONGs sobre o risco de “danos colaterais a civis inerentes a quaisquer operações deste tipo”, Amorim disse ser necessário “contrabalancear reações negativas com uma mensagem forte que focasse na assistência e estabilidade que a MINUSTAH e a comunidade internacional estão tentando trazer ao Haiti.

Ciclo vicioso

Em outra reunião, em 7 de fevereiro de 2007, com o representante político da embaixada Dennis Hearne, Amorim expressou que o Brasil estava no Haiti como um “compromisso de longo termo”.

Ele tria afirmado que o Haiti tinha um novo governo, e por isso era imperativo para a comunidade internacional evitar o “ciclo vicioso” de não doar recursos a um governo que “não é perfeito”, levando a uma situação em que “o governo e o país não poderão nunca melhorar a ponto de merecer receber doações”, diz um telegrama de 1 de março daquele ano.

Como o Iraque

Em fevereiro de 2009, o então subsecretário para assuntos políticos do Itamaraty, embaixador Everton Vargas, disse ao ex-embaixador americano, Clifford Sobel, que o Haiti “está sempre na mente de Amorim”.

Para ele, era importante garantir uma sucessão pacífica do governo de René Perval, o presidente que assumiu após o golpe. “Não não podemos ficar lá para sempre”, teria dito, de acordo com um telegrama de 21 de fevereiro de 2009.

A semelhança entre a fala do embaixador brasileiro e a retórica americana com relação à ocupação do Iraque não foi notada por Sobel.

Mas não deixou de ser notada por Marco Aurélio Garcia, em reunião com o representante político da embaixada Dennis Hearne em 9 de junho de 2005.

Perguntado se o governo brasileiro estava preocupado se mortes de soldados brasileiros poderiam gerar uma reação popular que afetaria a missão brasileira no Haiti, ele teria respondido que “até mesmo uma baixa brasileira” poderia causar turbulência.

“Garcia disse que a situação não é diferente da dos EUA no Iraque, e observou que o governo dos EUA não tem permitido a publicação de imagens de corpos de soldados mortos pela mídia”, diz o telegrama, de 10 de junho de 2005.


Extraído de:
http://cartacapitalwikileaks.wordpress.com/2011/01/14/haiti-como-o-brasil-se-voltou-contra-aristide/


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[*] Brasil se diz preocupado com retorno de Aristide (21/01/2011):
"Em 2005, o governo Lula elaborou um plano para trazer Aristide de volta ao cenário político do Haiti, mas foi dissuadido pela elite haitiana e pela ONU.
(...)
Pelo plano, Frei Betto, então assessor especial de Lula, seria enviado à África do Sul para encontrar Aristide.

Porém, antes disso, o também assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, viajou ao Haiti para fazer contatos informais.
(...)
Após se reunir com o governo, com a elite haitiana e com funcionários da ONU, ele saiu do Haiti descrevendo Aristide como "um gângster" que "ordena assassinatos por telefone celular" e que deveria ser julgado."

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/863920-brasil-se-diz-preocupado-com-retorno-de-aristide.shtml
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