sábado, 23 de outubro de 2010

Quociente eleitoral e castração do sufrágio

.
No artigo "O desgaste da democracia representativa moderna" [*] abordei a construção do atual modelo político dominante dentro dos seus contextos históricos e sociais, e mostrei os mecanismos implantados para castrar o "perigo" que representava o sufrágio nas mãos das classes subalternas que, por ser maioria, poderia conquistar direitos e reduzir os privilégios e até ameaçar a dominação das classes dominantes.

Em termos de Brasil, o quociente eleitoral é um desses mecanismos de castração. Ele exerce a pressão eleitoreira, joga as candidaturas para a aceitação das regras sujas do jogo, a fazer alianças espúrias para se eleger, e no final das contas manter as coisas como elas estão. À maioria daqueles que rejeitam entrar neste rio imundo resta a marginalidade política. E a maioria dos que adentram nele saem contaminados com o vírus do comprometimento com a manutenção do estado de coisas.

A notícia veiculada abaixo apenas corrobora o anteriormente esposto.



22/10/2010 - 12h44
Apenas 35 dos 513 deputados foram eleitos com seus próprios votos

Da Agência Câmara

Levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) indica que, segundo o resultado preliminar das eleições, apenas 35 dos 513 deputados federais eleitos alcançaram individualmente o quociente eleitoral nos seus Estados.

Os demais foram eleitos com ajuda de "puxadores" de votos, deputados que recebem votos em massa e carregam alguns colegas de seus partidos. Isso ocorre pelo cálculo do quociente eleitoral.

Em 2006, 32 foram eleitos ou reeleitos com os seus próprios votos, sem precisar dos votos das suas coligações.

Bahia, Pernambuco e Minas Gerais elegeram cinco parlamentares cada nessa situação. Ceará, Goiás, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo têm dois eleitos cada. Acre, Distrito Federal, Piauí, Paraná, Rondônia e Roraima contam com um representante cada.

Considerando os partidos, PT e PMDB elegeram sete cada; PSB, cinco; PR, quatro; PSDB, DEM e PP, dois; e PTB, PPS, PDT, PSC, PSOL e PCdoB, um.

O humorista Tiririca, que conquistou 1,3 milhão de votos pelo Partido da República em São Paulo, teve votos suficientes para ajudar a eleger mais 3,5 deputados de sua coligação.

Por outro lado, deputados com votação expressiva não foram eleitos. No Rio Grande do Sul, a deputada Luciana Genro (PSOL) não conseguiu ser reeleita, apesar de ter recebido 129 mil votos - a deputada não eleita mais votada do Brasil.

Para o líder do PSOL na Câmara, deputado Ivan Valente (SP), o sistema atual cria distorções “monstruosas” quando se trata de coligações partidárias, porque nem sempre o candidato “puxado” segue a mesma ideologia do mais votado.


- Disponível em:

UOL - Últimas notícias
http://eleicoes.uol.com.br/2010/ultimas-noticias/2010/10/22/apenas-35-dos-513-deputados-foram-eleitos-com-seus-proprios-votos.jhtm

Último Segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/eleicoes/apenas+35+dos+513+deputados+foram+eleitos+com+os+proprios+votos/n1237810290734.html
______________________________________________________

[*] O desgaste da democracia representativa moderna (09/09/2010):
http://blogdomonjn.blogspot.com/2010/09/o-desgaste-da-democracia-representativa.html
.